Por Cristiane Oliveira Reimberg / FUNDACENTRO – Para propor
a configuração de um Centro de Estudos voltado a investigar causas de acidentes
do trabalho, relatório técnico da Fundacentro analisa as concepções de
segurança e métodos sistêmicos de investigação e sua aplicação. O material pode
auxiliar profissionais da SST (Segurança e Saúde no Trabalho) a superar
criticamente a noção de ato inseguro, de erro humano e de confiabilidade
restrita no processo.
Múltiplos fatores devem ser considerados neste tipo de análise. O relatório “Desenvolvimento
de processo institucional de investigação de acidentes e catástrofes
industriais“, que está disponível na biblioteca digital da Fundacentro,
apresenta, assim, diferentes abordagens. Além de olhar para os fatores
organizacionais e sistêmicos, recomendam-se métodos com participação mais
efetiva dos trabalhadores no processo de investigação, que permitam a
incorporação de questões subjetivas. A investigação de acidentes deve ser vista
como forma de intervenção.
Os autores apontam que a concepção tradicional da segurança do trabalho se
funda na caracterização limitada de potenciais agravos, riscos e perigos. Nessa
concepção, acredita-se que a segurança é consequência do cumprimento estrito de
procedimentos e normas. Já os novos modelos de segurança criticam a noção de
erro humano e uma visão de confiabilidade dos processos na qual o comportamento
humano é problemático.
O texto apresenta propostas como a safety 2, ancorada nas perspectivas da
engenharia de resiliência. “Essa nova perspectiva visa favorecer o que
funciona, assim como o papel ativo dos empregados para manter tal
funcionamento”, destaca o relatório. Aponta-se proximidade com a proposta de
cultura de segurança, trazida pela Ergonomia da Atividade.
Outras perspectivas são apresentadas. Dekker, por exemplo, questiona o excesso
de procedimentos de segurança, que acabam por não garanti-la porque na prática
limitam a ação dos operadores. Os trabalhadores em ação definem as regras
necessárias para produzir levando em conta sua segurança. Já Besnard e
Hollnagel afirmam que a investigação é processo social. Não se deve buscar
causas e imputar responsabilidades, mas construir explicações aprofundadas. A
análise de acidentes deve conhecer a história em profundidade.
O Método MAPA também é apresentado no relatório. Desenvolvido no Brasil, busca
incorporar a visão sistêmica e organizacional para a investigação de acidentes
de trabalho, centrado na análise do trabalho em situação. O modelo da Gravata
Borboleta de análise de acidente, por sua vez, propõe que se avaliem os
determinantes e as suas consequências, além dos primeiros achados. A análise
sistêmica é utilizada, e recomendações preventivas são delineadas.
O relatório aborda a investigação independente e mostra instituições que
realizam esse tipo de atividade. Traça um panorama da pesquisa brasileira sobre
investigação de acidentes e segurança. Por fim, avalia que há espaço para
atuação da Fundacentro nesse tema e propõe desenho de Centro de Estudos voltado
para a questão.
O material é fruto de projeto coordenado pelo pesquisador da Fundacentro, José
Marçal Jackson Filho. Alisson Santos, Eugênio Diniz, João Apolinário da Silva e
Marcelo de Assis compuseram a equipe de projeto, e a gestão foi realizada por
Elizabeti Muto.
Fonte Bibliográfica: https://www.havagasmocc.com.br/p/relatorio-tecnico-da-fundacentro.html#google_vignette
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