1) Introdução:
Biologicamente existe uma pequena diferença entre
animais peçonhentos e animais venenosos, que será devidamente explicado neste
momento:
Animais
peçonhentos: são aqueles que possuem glândulas de veneno que
se comunicam com os dentes ocos, ou ferrões, ou aguilhões, por onde o veneno
passa ativamente. Ex.: serpentes, aranhas, escorpiões, abelhas, arraias.
Acidentes com “animais
peçonhentos e venenosos” que habitualmente aconteciam em área rural, agora
são mais frequentes nas áreas urbanas. Por este motivo, saber como lidar com
essa situação atípica é extremamente importante, principalmente para os
profissionais da área de Segurança do Trabalho.
2) Cobras Peçonhentas:
A ação do veneno das cobras corais no organismo é muito
rápida, os sinais e sintomas aparecem em questão de minutos. O envenenamento é
denominado de elapídico.
Elapídico
(Corais): Pequena reação no local da picada. Poucas horas após,
ocorre a "visão dupla", associada à queda das pálpebras; a vítima
também fica com "cara de bêbada". Outro sinal é a falta de ar, que
pode, em poucas horas, causar a morte do paciente. Responsável por 1% dos
acidentes.
Foto 1 - cobra coral
A cascavel, conhecida também como boicininga ou maracambóia. O
envenenamento causado pela cascavel é chamado de crotálico.
Crotálico
(Cascavel): Quase não se vê o sinal da picada, e
também há pouco inchaço no local. Algumas horas após o acidente, se observa a
dificuldade que o paciente tem de abrir os olhos, acompanhada de visão
"dupla" (vê os objetos duplicados). O paciente fica com "cara de
bêbado". Outro sinal é o escurecimento da urina, após 6 e 12 horas da
picada, caracterizando pela cor de coca-cola. Responsável por 9% dos acidentes.
Foto 2 - cobra cascavel
A surucucu, também chamada de pico de jaca ou surucutinga. Essas
cobras causam o chamado envenenamento laquético.
As
manifestações clínicas são semelhantes às do envenenamento botrópico. Nesse
sentido, os doentes picados por essas serpentes costumam apresentar, momentos
após, intensa sintomatologia no local da picada. A dor, o edema, o calor e o
rubor são semelhantes ao do acidente botrópico, podendo ser confundido com
este. O tempo de coagulação pode alterar-se, contribuindo para as hemorragias
sistêmicas muitas vezes observadas. Além disso, o doente pode apresentar
sintomas de excitação vagal, tais como bradicardia, diarréia, hipotensão
arterial e choque. As complicações observadas neste tipo de acidente são as
mesmas do acidente botrópico.
Estas
serpentes inoculam grande quantidade de veneno; por isso preconiza-se o uso de
10 a 20 ampolas de soro antilaquético ou antibotrópico-laquético, pela via
endovenosa. O tratamento complementar e os cuidados que devem ser tomados são
os mesmos da terapia antibotrópica.
Foto 3 - cobra surucucu
3) Aranhas Peçonhentas:
Aranhas:
Este é um animal tão comumente encontrado que nem mesmo nos damos conta do
perigo que ele pode representar. Isto acontece porque nem todas as aranhas
representam perigo de vida.
Os tipos de aranhas que representam maiores perigos
são:
A armadeira quando surpreendida coloca-se em
posição de ataque, apoiando-se nas pernas traseiras, ergue as dianteiras e
procura picar. A picada causa dor imediata, inchaço local, formigamento,
sudorese no local da picada. Deve-se combater a dor com analgésicos e observação
rigorosa de sintomas.
A preocupação deve ser com o surgimento
de vômitos, aumento da pressão arterial, dificuldade respiratória, tremores,
espasmos musculares, caracterizando acidente grave. Assim, há necessidade
de internação hospitalar e soroterapia.
Foto 4 - aranha armadeira
A aranha
marrom provoca menos acidentes, sendo
pouco agressiva. Na hora da picada a dor é fraca e despercebida, após 12 a 24
horas, dor local com inchaço, náuseas, mal estar geral, manchas, bolhas e até
necrose local. Nos casos graves, a urina fica cor de coca-cola. Orienta-se
procurar atendimento médico para avaliação.
A tarântula (aranha que vive em gramados ou
jardins) pode provocar pequena dor local, podendo evoluir para necrose.
Utiliza-se analgésicos para tratamento da dor e não há soroterapia específica,
assim como para as caranguejeiras.
Foto 6 - aranha tarântula
4) Escorpiões:
Os acidentes com escorpiões são pouco frequentes.
Os escorpiões são pouco agressivos e têm hábitos noturnos. Encontram-se em
pilhas de madeiras, cercas, tijolos, cupinzeiros. Sapatos e botas são ótimos
esconderijos. O veneno escorpiônico ataca o sistema nervoso (neuro-tóxico). É
um veneno potente e pode provocar a morte de indivíduos subnutridos e de
pequeno porte, como é o caso das crianças, conforme explicitado logo abaixo.
Nos casos graves, há fortes dores no local da picada,
com tendência a se espalhar para regiões vizinhas. A temperatura do corpo cai, e o suor torna-se
excessivo, pode haver um aumento da pressão, enjoo e vômitos. Há risco de vida nas primeiras 24 horas, principalmente
em crianças.
Os escorpiões, dentre os aracnídeos,
são os que mais frequentemente causam acidentes. Os mais comuns no Brasil são:
Foto 7 - Tytius serrulatus (escorpião amarelo)
Foto 8 - Tytius bahiensis (escorpião preto)
Em todos os casos acima mencionados os animais para se defender de uma ataque ou se valendo do poder da sua peçonha para neutralizar suas vítimas. Quando acontece uma situação deste tipo a vítima deve se deslocada o mais rápido possível para uma unidade de saúde mais próxima.
5) Medidas preventivas para se evitar acidentes com animais
No ambiente de trabalho, algumas normas e procedimentos
que devem ser seguidas, a fim de evitar ocorrências desta natureza,
principalmente em locais ou localidades onde a incidência com animais
peçonhentos e venenosos tem grande probabilidade de acontecer. Exemplos:
Lavouras, plantações, áreas cobertas por densa vegetação, mesmo que em área
urbana, construções antigas e abandonas entre outros.
Em casos bem específicos, principalmente em atividades
rurais como explicita a NR 31 (Segurança e Saúde do Trabalho na Agricultura,
Pecuária, Silvicultura e Exploração Florestal), no item 31.20.2.
Usar
os Equipamentos de Proteção Individual (EPI), botas de couro de cano longo,
perneiras, chapéu, macacão entre outros, de acordo com o risco de cada
atividade laboral.
Bota cano longo
Perneira de raspa
6) Medidas preventivas de caráter geral para se evitar acidentes com animais peçonhentos ou venenosos:
·
Manter o ambiente limpo de lixo orgânico
(restos de comida) que podem atrair os roedores, ratos, camundongos, catitas e
etc., pois estes animais servem de alimento para as cobras;
·
Não acumular lixo de construção (tijolos,
pedras, telhas) ou mesmos outros tipos de entulhos as proximidades da
residência, pois estes locais servem de abrigo para uma serie de animais
peçonhentos e venenosos;
·
Manter o terreno sempre limpo e com a grama
aparada, livre do acumulo de folhas, galhos de arvores;
·
Se possível instalar telas protetoras nas
portas e janelas, para evitar ou dificultar o acesso destes animais a área
interna da residência;
·
No inverno (período chuvoso) manter as
portas de armários, guarda roupas sempre fechadas;
·
Antes de calçar qualquer tipo de calçado
fechados como: botas, botinas ou mesmo sapatos que ficam expostos no lado de
fora da residência, fazer uma inspeção minuciosa antes;
·
Não meter a mão em buracos escuros e úmidos
sem luvas de proteção e camisa de manga longa;
·
Terrenos baldios, construções abandonadas,
e inicio de obras de construção podem ter estes tipos de animais peçonhentos
escondidos ou encobertos pela vegetação;
·
Sempre que remover entulhos de forma geral
usar luvas de proteção;
·
Não se locomover em áreas de mato denso,
fazendas, quintais e jardins descalços, principalmente as crianças.
7 ) Primeiros
Socorros para as vitimas de mordeduras de cobras peçonhentas:
- Sempre que possível capturar o animal vivo para facilitar a identificação, e ministrar o soro antiofídico adequado;
- Não fornecer para vitima, bebidas alcoólicas;
- Impedir que a vítima entre em desespero, manter a pessoa o mais calma possível retarda assim que o veneno seja espalhado rapidamente pela circulação sanguínea;
- Não amarrar ou fazer torniquetes, a falta de circulação de sangue no membro ou parte afetada do corpo pode ocasionar gangrena ou necrose;
- No caso de picada localizada nos membros inferiores ou superiores, realizar a elevação do membro para diminuir a circulação sanguínea;
- Não cortar, pressionar ou chupar o local onde a pessoa foi picada, se não pode ocasionar a absorção do veneno;
- Não colocar qualquer tipo de substância, produto ou folha sobre o local da picada;
·
Após estas medidas deslocar a vitima o mais
rápido possível para o hospital mais próximo para receber o tratamento
adequado, conforme já citado anteriormente.
8) Animais
venenosos:
São aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho
inoculador (dentes, ferrões) provocando envenenamento passivo por contato
(taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu).
Sapo:
No caso dos sapos, vale a pena lembrar que aquele
líquido que este animal esguicha numa situação de perigo e stress não é veneno.
O que ele faz é esvaziar a bexiga sobre o agressor na intenção de
assustá-lo, mas a urina não é tóxica. Os sapos não liberam veneno a menos que
este seja pressionado. Mas ele é esperto: quando está em perigo, infla os
pulmões e isso faz com que as glândulas de veneno fiquem mais expostas, com
isso, caso um predador encoste, o veneno será liberado! Abaixo serão colocadas fotos ilustrativas para que possa visualizar onde fica esta glândula que produz o veneno. Porém ele não inoculado na vítima.
Foto 8Foto 9
Foto 10
Lacraias:
O veneno das lacraias é muito pouco tóxico para o homem. Embora existam muitas lendas a respeito desse animal, não há, no Brasil, relatos comprovados de morte nem de envenenamentos graves em acidentes com lacraias.
Taturanas ou Lagartas:
As taturanas ou lagartas que podem causar acidentes são formas larvais de mariposas que possuem cerdas pontiagudas contendo as glândulas do veneno. É comum o acidente ocorrer quando a pessoa encosta a mão nas árvores onde habitam as lagartas.
O acidente é relativamente benigno na grande maioria dos casos. O contato leva a dor em queimação local, com inchaço e vermelhidão discretos. Somente o gênero Lonomia pode causar envenenamento com hemorragias à distância e complicações como insuficiência renal.
Foto 12
Foto 13
Caso
aconteça algum topo de acidente com este tipo de animal, ter cuidado com as
pessoas que possuem hipersensibilidade. Geralmente por se tratar de animais
menos agressivos, os sintomas podem ser variados:
- Irritação e inchaço no local afetado;
- Dor intensa;
- Calafrio;
- Temores;
- Suor intenso;
- Febre;
- Agitação, principalmente em crianças.
Esses
sintomas podem variar de pessoa para pessoa, devido ao peso, idade e altura
(fisiologia). E dependem da intensidade e extensão da área afetada. Neste os primeiros socorros para este tipo de situação são os mais simples possíveis, porém podem surtir grande efeito quando empregado no momento certo:
- Não deixar que a vítima passe a mão no local afetado;
- Não fornecer nenhum tipo de bebida alcoólica;
- Lavar o local com bastante água fria;
- Aplicar compressas de água fria na região afetada;
- Deslocar a vitima para o hospital mais próximo para receber o tratamento adequado.
Os acidentes envolvendo
animais peçonhentos e venenosos são mais comuns do que pensamos em algumas
regiões do Brasil. Principalmente na Região Norte do país.
Para saber lidar de forma
correta nesta situação, é preciso estar habilitado
e qualificado para agir de forma rápida e evitar maiores consequências para
a vítima. Por este motivo é bom ter um Kit de Primeiros Socorros em nossas residências.
10) Kit de primeiros socorros:
Além dos Riscos
Ambientais (risco químico, físico e biológico) que estão elencados na Norma Regulamentadora nº 9, os Riscos
de Acidentes também são uma eterna fonte de preocupação para o Técnico de
Segurança do Trabalho. Por este motivo, as empresas devem possuir um Kit de
Primeiros Socorros à disposição em caso de qualquer eventualidade.
Segundo a Norma Regulamentadora nº 7, item 7.5.1,
todo o estabelecimento deve estar equipado com material necessário à prestação
de primeiros socorros. Importante lembrar que nesse conjunto de materiais não podem constar medicamentos.
A Empresa deve disponibilizar aos trabalhadores, caixa de emergência equipada
com o material necessário à prestação dos Primeiros Socorros; manter
esse material guardado em local adequado, aos cuidados de um Trabalhador
Treinado para esse fim.
·
O Kit de
Primeiros Socorros, e seu conteúdo, pode variar, devido ao Grau de Risco,
atividade econômica desenvolvida pela empresa e localização da organização.
·
Segue abaixo
uma pequena lista básica de materiais para compor um Kit de Primeiros Socorros:
- 5 rolos
de atadura de crepom de 10 cm de largura;
- 5 rolos
de atadura de crepom de 15 cm de largura;
- 1 caixa
de curativo autoadesivo;
- 10
pacotes de gaze esterilizada;
- 1
tesoura pequena;
- 1
pacote de algodão;
- 2 pares
de luvas cirúrgicas número 8;
- 2 sacos
plásticos transparentes de 1 litro;
- 1 rolo
de esparadrapo grande;
- 1 sabão
líquido anti-bactericida.
Muito obrigado a todos.
Atenciosamente.
André Padilha.
Bombeiro Civil.
Técnico de Segurança do Trabalho.
Analista de Riscos em Segurança Empresarial e Corporativa.
Tecnólogo em Gestão de Segurança Privada.
MB em Recursos Humanos.