sábado, 3 de dezembro de 2016

SINDROME DE BURNOUT.





A síndrome de Burnout (do inglês to burn out, Algo como queimar por completo), também chamada de Síndrome do esgotamento Profissional, foi assim denominada pelo psicanalista nova-iorquino Freudenberger, após constatá-la em si mesmo, no início dos anos 1970.

A palavra síndrome designa um conjunto de sintomas, que podem ser físicos, psíquicos, de comportamento etc. No caso da Síndrome de Burnout, os sintomas mais expressivos são: crescimento da fadiga constante, distúrbios de sono, dores musculares, dores de cabeça e enxaquecas, problemas gastrointestinais, respiratórios, cardiovasculares. Em mulheres, as alterações no ciclo menstrual são um sintoma físico importante. Além desses, existem sintomas psicológicos como: dificuldade de concentração, lentificação ou alteração do pensamento, sentimentos negativos sobre o viver, trabalhar e ser, impaciência, irritabilidade, baixa autoestima, desconfiança, depressão, em alguns casos paranoia.



Quais podem ser as causas?

As causas da Síndrome de Burnout compreendem um quadro multidimensional de fatores individuais e ambientais, que estão ligadas a uma percepção de desvalorização profissional. Isso significa dizer que não se pode reduzir a causa a fatores individuais como a personalidade ou algum tipo de propensão genética. O ambiente de trabalho e as condições de realização deste podem também determinar o adoecimento ou não do sujeito.

Alguns autores afirmam que a configuração do caso de Burnout passaria por estágios que vão desde uma necessidade de autoafirmação profissional, passando por estágios comuns de intensificação da dedicação ao trabalho que, levada a consequências extremas, resultaria no esgotamento característico da síndrome. Entre outros estágios, podemos destacar o caminho que passa pelo descaso crescente com relação às atividades de cuidado de si, como comer e dormir, acompanhado por um recalque de conflitos, caracterizado pelo não enfrentamento de situações que incomodam e pela negação dos problemas. Além desses, o sujeito passa por um processo de reinterpretação que faz com que coisas importantes sejam descartadas como inúteis.

Nesse quadro, já se pode falar em uma espécie de despersonalização, uma vez que o sujeito age de formas tão distintas que se torna “outra pessoa”, marcada por sinais de depressão, desesperança e exaustão, ou seja, uma espécie de colapso físico e mental que pode ser considerado quadro de emergência médica ou psicológica.

A dedicação exagerada à atividade profissional é uma característica marcante de Burnout, mas não a única. O desejo de ser o melhor e sempre demonstrar alto grau de desempenho é outra fase importante da síndrome: o portador de Burnout mede a autoestima pela capacidade de realização e sucesso profissional. O que tem início com satisfação e prazer termina quando esse desempenho não é reconhecido. Nesse estágio, a necessidade de se afirmar e o desejo de realização profissional se transformam em obstinação e compulsão; o paciente nesta busca sofre, além de problemas de ordem psicológica, forte desgaste físico, gerando fadiga e exaustão. É uma patologia que atinge membros da Área da Saúde, Segurança Pública, setor bancário, Educação, Cartorários, Tecnologia da informação, Gerentes de Projetos, profissionais da saúde em geral, jornalistas, advogados, bioquímicos, professores e até mesmo voluntários.


Estágios
São doze os estágios de Burnout:
  • Necessidade de se afirmar ou provar ser sempre capaz
  • Dedicação intensificada - com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho e a qualquer hora do dia (imediatismo);
  • Descaso com as necessidades pessoais - comer, dormir, sair com os amigos começam a perder o sentido;
  • Recalque de conflitos - o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas;
  • Reinterpretação dos valores - isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da autoestima é o trabalho;
  • Negação de problemas - nessa fase os outros são completamente desvalorizados, tidos como incapazes ou com desempenho abaixo do seu. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;
  • Recolhimento e aversão a reuniões (recusa à socialização);
  • Mudanças evidentes de comportamento (dificuldade de aceitar certas brincadeiras com bom senso e bom humor);
  • Despersonalização (evitar o diálogo e dar prioridade aos e-mails, mensagens, recados etc);
  • Vazio interior e sensação de que tudo é complicado, difícil e desgastante;
  • Depressão - marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido;
  • E, finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de emergência e a ajuda médica e psicológica uma urgência.

Sintomas

Os sintomas são variados: fortes dores de cabeça, tonturas, tremores, muita falta de ar, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e problemas digestivos. Segundo Dr. Jürgen Staedt, diretor da clínica de psiquiatria e psicoterapia do complexo hospitalar Vivantes, em Berlim, parte dos pacientes que o procuram com depressão são diagnosticados com a síndrome do esgotamento profissional. O professor de Psicologia do comportamento Manfred Schedlowski, do Instituto Superior de Tecnologia de Zurique (ETH), registra o crescimento de ocorrência de "Burnout" em ambientes profissionais, apesar da dificuldade de diferenciar a síndrome de outros males, pois ela se manifesta de forma muito variada: "Uma pessoa apresenta dores estomacais crônicas, outra reage com sinais depressivos; a terceira desenvolve um transtorno de ansiedade de forma explícita", e acrescenta que já foram descritos mais de 130 sintomas do esgotamento profissional.

Burnout é geralmente desenvolvida como resultado de um período de esforço excessivo no trabalho com intervalos muito pequenos para recuperação. Pesquisadores parecem discordar sobre a natureza desta síndrome. Enquanto diversos estudiosos defendem que Burnout refere-se exclusivamente a uma síndrome relacionada à exaustão e ausência de personalização no trabalho, outros percebem-na como um caso especial da depressão clínica mais geral ou apenas uma forma de fadiga extrema (portanto omitindo o componente de despersonalização).

Trabalhadores da área de saúde são frequentemente propensos ao burnout. Os médicos parecem ter a proporção mais elevada de casos de burnout (de acordo com um estudo recente no Psychological Reports, nada menos que 40% dos médicos apresentavam altos níveis de burnout). Cordes e Doherty (1993), em seu estudo sobre esses profissionais, encontraram que aqueles que tem frequentes interações intensas ou emocionalmente carregadas com outros estão mais suscetíveis.

Os estudantes são também propensos ao burnout nos anos finais da escolarização básica (ensino médio) e no ensino superior; curiosamente, este não é um tipo de burnout relacionado com o trabalho, mas com o estudo intenso continuado com privação do lazer, de actividades lúdicas, ou de outro equivalente de fruição hedónica. Talvez isto seja melhor compreendido como uma forma de depressão. Os trabalhos com altos níveis de stress ou consumição podem ser mais propensos a causar burnout do que trabalhos em níveis normais de stress ou esforço. Profissionais de TI, cientistas, policiais, taxistas, bancários, controladores de tráfego aéreo, engenheiros, músicos, professores e artistas parecem ter mais tendência ao burnout do que outros profissionais.


A Síndrome de "Burnout" em Professores

A burnout de professores é conhecida como uma exaustão física e emocional que começa com um sentimento de desconforto e pouco a pouco aumenta à medida que a vontade de lecionar gradualmente diminui. Sintomaticamente, a burnout geralmente se reconhece pela ausência de alguns fatores motivacionais: energia, alegria, entusiasmo, satisfação, interesse, vontade, sonhos para a vida, idéias, concentração, autoconfiança e humor.
Um estudo feito entre professores que decidiram não retomar os postos nas salas de aula no início do ano escolar na Virgínia, Estados Unidos, revelou que entre as grandes causas de estresse estava a falta de recursos, a falta de tempo, reuniões em excesso, número muito grande de alunos por sala de aula, falta de assistência, falta de apoio e pais hostis. Em uma outra pesquisa, 244 professores de alunos com comportamento irregular ou indisciplinado foram instanciados a determinar como o estresse no trabalho afetava as suas vidas. Estas são, em ordem decrescente, as causas de estresses nesses professores:
  • Políticas inadequadas da escola para casos de indisciplina;
  • Atitude e comportamento dos administradores;
  • Avaliação dos administradores e supervisores;
  • Atitude e comportamento de outros professores e profissionais;
  • Carga de trabalho excessiva;
  • Oportunidades de carreira pouco interessantes;
  • Baixo status da profissão de professor;
  • Falta de reconhecimento por uma boa aula ou por estar ensinando bem;
  • Alunos barulhentos;
  • Lidar com os pais.
Os efeitos do estresse são identificados, na pesquisa, como:
  • Sentimento de exaustão;
  • Sentimento de frustração;
  • Sentimento de incapacidade;
  • Carregar o estresse para casa;
  • Sentir-se culpado por não fazer o bastante;
  • Irritabilidade.
As estratégias utilizadas pelos professores, segundo a pesquisa, para lidar com o estresse são:
  • Realizar atividades de relaxamento;
  • Organizar o tempo e decidir quais são as prioridades;
  • Manter uma dieta equilibrada ou balanceada e fazer exercícios;
  • Discutir os problemas com colegas de profissão;
  • Tirar o dia de folga;
  • Procurar ajuda profissional na medicina convencional ou terapias alternativas.
Quando perguntados sobre o que poderia ser feito para ajudar a diminuir o estresse, as estratégias mais mencionadas foram:
  • Dar tempo aos professores para que eles colaborem ou conversem;
  • Prover os professores com cursos e workshops;
  • Fazer mais elogios aos professores, reforçar suas práticas e respeitar seu trabalho;
  • Dar mais assistência;
  • Prover os professores com mais oportunidades para saber mais sobre alunos com comportamentos irregulares e também sobre as opções de programa para o curso;
  • Envolver os professores nas tomadas de decisão da escola e melhorar a comunicação com a escola.

Como se pode ver, o burnout de professores relaciona-se estreitamente com as condições desmotivadoras no trabalho, o que afeta, na maioria dos casos, o desempenho do profissional. A ausência de fatores motivacionais acarreta o estresse profissional, fazendo com que o profissional largue seu emprego, ou, quando nele se mantém, trabalhe sem muito apego ou esmero.

Um dos principais fatores encontrados da origem do burnout, foi a falta de controle sobre o trabalho. Faz-se necessário, ainda, acrescentar que nos territórios da Saúde, a Síndrome de Burnout adquire aspectos mais complexos pelo fato de agregar valores oriundos dos sistemas de saúde que se alimentam de perspectivas utópicas que interferem, diretamente, no trabalho do enfermeiro. Currículos, diretrizes, orientações e demais processos burocráticos acabam por disseminar discussões que sempre acabam acumulando estresse nas práticas profissionais e, consequentemente, envolve o enfermeiro e sua práxis. A sociedade, por sua vez transfere responsabilidades extras ao enfermeiro, sobrecarregando-o e inculcando-lhe papéis que não serão desempenhados com a competência necessária.

Cada dia mais se agrega mais atividades para o enfermeiro nas instituições e os processos de qualidade inserem cada vez mais itens a serem checados, também há a desvalorização salarial e a sobrecarga horária a que são submetidos, fazendo com que os enfermeiros não respeitem individualmente um período de repouso entre uma jornada e outra, acumulando empregos e chegando a trabalhar 36 e 48 horas ininterruptas, com repousos de 1 a 2 horas no máximo entre as jornadas de 12 horas.

 
Fonte: Revista Viver Mente e Cérebro, edição 161, junho de 2006.


Adaptações e imagens: André Padilha.

Técnico de Segurança do Trabalho. 
Bombeiro Civil.
Analista de Riscos em Segurança Empresarial e Corporativo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

TRAUMA RAQUIMEDULAR.



A coluna vertebral é composta por 33 ossos denominados vértebras, que se estendem desde a base do crânio até o cóccix e são divididos em grupos conforme sua localização e por similaridades anatômicas em cervicais (07), torácicas (12), lombares (05), sacrais (05) e coccígeas (04) (DANGELO & FATTINI, 2004.p. 375). São classificados como ossos irregulares, por terem uma morfologia complexa sem precedentes em formas geométricas conhecidas (idem, p. 21).


São separadas entre si por discos fibrocartilaginosos – os discos intervertebrais, que tem por função absorver os aumentos de pressão numa súbita sobrecarga de peso na coluna e conferir mobilidade entre as vértebras adjacentes, além de impedir o impacto direto entre as vértebras, reduzindo assim seu desgaste pelo atrito.

Anatomicamente, as vértebras possuem um forame vertebral, que quando alinhadas, formam um “túnel” ósseo, por onde passa a medula espinhal, de onde ramificam os nervos espinhais.

Além deste arcabouço ósseo, também são protetores da medula as meninges, lâminas membranosas de tecido conjuntivo que protegem o encéfalo e se estendem até o estreitamento da medula espinhal, em T12, chamado cone medular, e em L1, sua ramificação denominada cauda eqüina. As meninges são três, a saber: dura-máter (mais externa), aracnóidea (central) e pia-máter (mais interna). Entre a aracnóidea e a dura-máter, existe um espaço subdural, e entre a aracnóidea e a pia-máter existe o espaço subaracnóide, por onde circula o líquido cefalorraquidiano, ou líquor.

A coluna vertebral tem por função dar sustentação ao corpo, além de proteger a medula espinhal, e permitir assim que os impulsos nervosos fluam livremente pelas vias eferentes (motoras) e aferentes (sensitivas), para que o cérebro envie comandos e receba sensações. A interrupção deste fluxo causa isolamento do segmento corporal no nível e abaixo da lesão, levando a perda e/ou diminuição da sensibilidade e da capacidade de movimento.

DEFINIÇÃO.

Traumatismo raquimedular é a lesão da medula espinhal, que pode ser completa ou incompleta. Apenas aproximadamente em 20 % dos casos a lesão medular não decorre de traumatismos, sendo secundária a processos degenerativos / patológicos tais como tumores, malformações, diabetes. A grande maioria dos casos de trauma raquimedulares é decorrente de acidentes. Pode ser devido a acidentes automobilísticos, ferimentos por armas de fogo, quedas, acidentes esportivos, acidentes de trabalho[1](SANTOS et al, 2005. p. 137). Os locais mais comuns de lesão medular são as áreas das vértebras C5, C6 e C7, além da junção das vértebras torácicas e lombares, T12 e L1 (NETTINA, 2007, p.507). A energia mecânica tende a ser o agente de lesão mais comum, sendo ainda o maior responsável pelos traumatismos raquimedulares.




Os três mecanismos básicos de lesão por movimento são: a desaceleração frontal rápida, a desaceleração vertical rápida e a penetração de projétil. Os mecanismos de lesão tendem a ocorrer em associação:

Sobrecarga axial – compressão da coluna vertebral devido a impactos frontais da cabeça com objetos fixos, quedas de alturas elevadas, mergulho em águas rasas.

Flexão, lateralização, extensão e/ou rotação excessivas – devido a sua característica anatômica, a coluna vertebral é mais suscetível à flexão lateral, daí, um impacto lateral pode provocar maiores danos que um impacto anterior ou posterior.

 Estiramento – é o mecanismo de lesão aplicado no enforcamento.

A transecção completa da medula é aquela onde todos os tratos da medula são rompidos. Neste caso, todas as funções abaixo do nível da transecção estarão definitivamente perdidas.
Os sinais e sintomas encontrados serão:

*Perda da função motora:
tetraplegia na transecção de medula cervical (quando há perda motora e/ou sensitiva em membros inferiores E membros superiores) e paraplegia na lesão da medula torácica.

* Flacidez muscular.
* Perda dos reflexos e da função sensorial abaixo do nível da lesão.
* Atonia vesical e intestinal.
* Perda do tono vasomotor nas partes corporais inferiores com pressão arterial baixa e instável.
* Pele seca e pálida.
* Comprometimento respiratório.

A transecção incompleta ocorre quando algumas fibras nervosas são preservadas, não ocorrendo o rompimento por completo da medula espinhal. Nestes casos, a localização da lesão (anterior; central; lateral ou síndrome de Brown-Sequard) determinará os sinais e sintomas encontrados.

Quando a lesão for anterior, ou seja, por oclusão da artéria espinhal anterior, geralmente provocada por compressão de fragmentos ósseos, observa-se perda da função motora abaixo do nível da lesão, além de perda das sensações de temperatura e dor abaixo do nível da lesão. Os sentidos de toque, pressão, posição e vibração apresentam-se intactos.

Nos casos em que a transecção seja do tipo síndrome da medula central, isto é, quando a porção central da medula é afetada, geralmente por lesão por hiperextensão, nota-se que os déficits motores são maiores nos membros superiores que nos membros inferiores, e pode haver um grau variável de disfunção urinária.

A Síndrome de Brown-Sequard é a hemisecção da medula, muito frequente em lesões por arma de fogo e feridas incisas, onde o dano à medula ocorre apenas em um dos lados. Teremos como achados clínicos a pares ia ou a paralisia ipsilateral abaixo do nível da lesão, perda ipsilateral dos sentidos de toque, pressão, vibração e posição abaixo do nível da lesão, além de perda contralateral das sensações de dor e temperatura abaixo no nível da lesão.

EPIDEMIOLOGIA.

Os fatores de risco predominantes para lesão raquimedular são idade, sexo, uso de álcool e drogas (lícitas e ilícitas).

A prevenção primária é a mais eficiente forma de prevenção. O quadro 1 demonstra os conselhos mais efetivos para a prevenção da lesão raquimedular.

A lesão raquimedular ocorre com freqüência até quatro vezes maior em homens que em mulheres. Mais da metade dos registros de lesão raquimedular ocorre em indivíduos inseridos na faixa etária dos 16 aos 30 anos, sendo a causa mais comum os acidentes automobilísticos (35 %) seguida pela violência (30%), quedas (19%) e práticas desportivas (8%), segundo o Center of Disease Control - CDC (2001).

As vértebras mais acometidas são C5, C6 e C7, T12 e L1 devido a maior amplitude de movimento da coluna vertebral nestas regiões (DISBIE, 1998, in Smeltzer & Bare, 2006).

Prevenindo Lesões Medulares: aconselhamento recomendado.

Os motoristas devem obedecer às leis de trânsito, principalmente no que concerne à velocidade máxima permitida e à proibição do ato de dirigir sob efeito de álcool e drogas entorpecentes;
Todos os ocupantes de veículos automotores devem usar o cinto de segurança conforme recomendado. Crianças menores de 12 anos de idade devem ser transportadas no banco traseiro, contidas por sistema apropriado ao seu peso/idade;

É terminantemente proibido o transporte de passageiros em caçambas de caminhonetes;
Motociclistas, ciclistas, skatistas e patinadores devem sempre faze uso de capacete;

Faz-se necessário empreender campanhas regulares de educação no transito, com vistas à prevenção de acidentes por imprudência tanto para condutores quanto para pedestres;

Devem ser fornecidas instruções acerca da segurança com a água;

Devem ser implementadas medidas de segurança para evitar quedas na população idosa, tanto nas residências quanto nos ambientes públicos;

Os atletas devem fazer uso de equipamentos de segurança adequados à sua atividade desportiva, e os técnicos devem ser educados quanto à forma de utilização destes equipamentos;

Os proprietários de armas de fogo devem mantê-las guardadas (desmuniciadas e travadas) em locais longe do alcance de crianças. Mesmo em caso de disparos acidentais, os proprietários de armas de fogo devem ser legalmente implicados.

FONTE: Adaptado de SMELTZER, SC; BARE, BG. BRUNNER E SUDDARTH Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 4 vol. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2006. 2022p.
Atendimento pré-hospitalar: salvar vidas prevenindo lesões.

“Em situações limítrofes somos compelidos a “salvar” o outro ser humano que esteja em situação de risco maior que a nossa"[2]. Porém, este instinto de preservação da espécie pode provocar o agravamento de lesões medulares, quando desprovido de prudência e perícia.

Como já vimos, a energia de movimento está em associação com a Lei de Conservação de Energia (onde a energia não pode ser criada e nem destruída, apenas modificada), a Primeira Lei de Newton (onde um corpo tende a permanecer em repouso ou em movimento até que uma força maior atue sobre ele), a Segunda Lei de Newton (Força= massa X aceleração), Energia Cinética (metade da massa de um corpo multiplicada pela velocidade elevada ao quadrado) e pelo principio de Troca de Energia (quando dois corpos em velocidades diferentes interagem, as velocidades tendem a se igualar, e a rapidez com que isso se processa depende da densidade dos corpos e da área de contato entre os corpos). A cena do acidente nos fala muito sobre as possibilidades de lesão, seja pelas marcas deixadas no veículo, pela posição dos corpos, pela destruição da paisagem natural do lugar, ou simplesmente por marcas deixadas no solo. Estes pressupostos físicos nos auxiliam a entender a dinâmica do trauma, e também podem colaborar na elaboração de um plano de ação em situações de acidente, quando se faz necessário aliar o conhecimento técnico à destreza manual, para salvar vidas e impedir o agravamento de lesões por imperícia.

Portanto, devemos considerar em primeiro lugar a segurança, afastando-se do trânsito de veículos, de combustíveis e inflamáveis, de áreas em risco de desabamento e despenhadeiros. Manter vias aéreas pérveas, função cardíaca, respiratória, conter sangramentos, tudo isto, preservando a região cervical, fazendo a contenção com colar cervical próprio ou improvisado, a fim de evitar que uma transecção incompleta evolua para uma transecção completa. Existe instabilidade ligamentar e vertebral numa lesão traumática, o que deixa a medula vulnerável: o movimento pode, portanto lesar ainda mais a medula já comprometida. Imediatamente, é necessário instalar a vítima em uma superfície rígida para transporte até um serviço de emergência, garantindo a fixação da cabeça.

Deve-se atentar para uma diminuição brusca da pressão arterial, em resposta ao trauma, pela compressão / rompimento da medula. Pode haver ainda depressão respiratória, além de oscilações térmicas tendendo à hipotermia por depressão do sistema nervoso autônomo.
Classificação da lesão medular

Genericamente, podemos dizer que quando a lesão ocorrer entre as vértebras C1 a C8, ocasionará a tetraplegia, com comprometimento da função dos membros superiores e inferires, além de tronco e órgãos pélvicos. Nos casos em que a lesão atinja os segmentos torácico, lombar ou sacral dos nervos espinhais, o comprometimento será proporcional à altura da lesão: é a paraplegia, onde a função dos membros superiores se mantém preservada, porém pode haver comprometimento do tronco, órgãos pélvicos e membros inferiores.

A Escala de Comprometimento da ASIA (American Spinal Injury Association), baseada na completude da lesão (grau de transecção da medula) e na função sensorial / motora. Abaixo, os níveis de lesão em relação ao rompimento das fibras da medula, e o comprometimento das funções sensorial e motora, de acordo com a ASIA:
ASIA A - transecção completa da medula - função sensorial e motora ausente em S4 - S5
ASIA B - transecção incompleta da medula - Função sensorial intacta, porém função motora ausente abaixo do nível da lesão, incluindo o nível S4 – 5.

ASIA C - transecção incompleta da medula - Função motora intacta distalmente ao nível da lesão e mais da metade dos músculos essenciais distais ao nível da lesão têm um grau muscular abaixo de 3.

ASIA D - transecção incompleta da medula - Função motora intacta distal ao nível da lesão neurológica, e mais da metade dos músculos essenciais distais ao nível da lesão neurológica têm grau muscular superior ou igual a 3.

ASIA E - transecção incompleta da medula - Funções motora e sensorial intactas.

A sensibilidade sacral está intacta se houver sensação profunda e sensação na junção mucocutânea anal; a função motora sacral está intacta se o paciente apresentar contração voluntária do músculo esfíncter interno do ânus com estimulação digital.

A função sensibilidade é testada em cada um dos vinte e oito dermátomos em ambos os lados do corpo. Sugere-se a seguinte graduação: 0 para função ausente; 1 para função comprometida e 2 para função normal.

A função motora é testada em cada um dos dez pares de miotomas em ambos os lados do corpo. Sugere-se a seguinte graduação: 0 para paralisia total; 1 para contração visível ou palpável; 2 para movimentos ativos e amplitude de movimento (ADM) completa, sem gravidade; 3 para movimento ativo e ADM completa contra a gravidade; 4 para movimento ativo e ADM completo, com resistência moderada; 5 para função motora normal com movimento ativo e ADM completa contra resistência integral.
Zona de preservação parcial – ZPP: indica áreas de inervação sensorial / motora abaixo do nível da lesão, compreendendo os três segmentos caudais consecutivos à área da lesão. A ZPP é aplicável apenas nos casos onde houver transecção completa da medula espinhal.

Quadro clínico
Fase aguda (de 1 a 24 horas após o trauma)
Nesta fase, o edema provocado pelo trauma ainda é um dos limitadores da avaliação da lesão. Portanto, pode ser difícil determinar o grau de transecção da medula. Testa-se a capacidade motora e sensitiva com maior freqüência a fim de acompanhar a involução do edema.
Intervenções cirúrgicas nesta fase são recomendadas quando houver instabilidade vertebral, a fim de evitar maiores agravos à lesão pré-existente. Os objetivos são remover os fragmentos ósseos que porventura estejam comprimindo a medula, além de estabilizar as vértebras, para que o processo de reabilitação possa ser iniciado precocemente. O succinato dissódico de metilpredinisolona (corticóide) deve ser administrado até oito horas após a lesão, com dose de manutenção por 48 horas (NETTINA, 2007. p. 510).
O paciente deve também ser avaliado para o choque espinhal, uma perda completa de toda a atividade reflexa, motora, sensorial e autonômica abaixo do nível da lesão, o que provoca paralisia e distensão vesical (bexiga neurogênica). O tratamento desta complicação é o uso de sonda de Foley. Pode ainda ocorrer distensão gástrica e íleo paralítico em decorrência do intestino atônico. Neste caso, a sonda nasogástrica em gavagem é indicada para descompressão gástrica, alem de evitar a broncoaspiração do resíduo gástrico.
Fase subaguda (de 24 horas até uma semana pós-trauma)

As trações com halo cervical são comumente utilizadas para tratar as lesões cervicais. A mobilização precoce, em blocos, e os exercícios passivos devem ser iniciados tão logo o paciente esteja em condições de estabilidade clínica e cirúrgica.
Programa-se uma hiperalimentação, com dieta líquida por sonda, progredindo para pastosa, tão logo a condição do cliente permita, hipercalórica, hiperprotéica e rica em fibras, a fim de retardar o balanço nitrogenado negativo. O volume da dieta deve aumentar gradualmente, conforme a tolerância.
Farmacologicamente, bloqueadores H2 são administrados para evitar irritação gástrica e hemorragias; a administração do sal sódico gangliosídeo GM-1 por via endovenosa, iniciado em 72 horas após a lesão, e mantido por 18 a 32 dias, tem demonstrado bons resultados na regeneração neuronal (NETTINA, 2007. p. 510).

As medidas para prevenir a tromboembolia são implementadas de acordo com o grau de completude da lesão, medido pela escala ASIA:

ASIA C e D – meia elástica, botas de compressão, heparina não fracionada (5000 UI a cada 12 horas);

ASIA A e B – meia elástica, botas de compressão, heparina não fracionada em dose ajustada a um nível máximo do normal da TTP (Tempo de Protrombina), ou heparina de baixo peso molecular 30 mg duas vezes ao dia.

Pacientes com histórico de Trombose Venosa Periférica prévia, além daqueles em que haja fratura de membros inferiores concomitante ao trauma raquimedular, devem ser monitorados amiúde, e um filtro de veia cava deve ser considerado, devido ao risco de embolia gordurosa.

A reabilitação vesical se inicia com o cuidado de não manter a sonda Foley aberta nas 24 horas, a fim de evitar a perda da capacidade de distensão vesical por desuso. As úlceras por pressão devem ser prevenidas com a mobilização no leito, em blocos, massagem corporal e hidratação cutânea.
Fase Crônica ou Ajustamento medular (após uma semana do trauma)

As complicações devem ser tratadas, tais como infecções (antibioticoterapia); comprometimento respiratório (estimulação elétrica do nervo frênico, ventilação mecânica, fisioterapia respiratória); lesão mucocutânea traumática e prevenção de ulceras por pressão; ossificação heterotrópica (uso de quelantes de cálcio e antiinflamatórios); siringomielia (drenagem); espasticidade (antiespasmódicos orais e intratecais, cirurgia, estimulação da medula espinhal); dor neuropática central (anticonvulsivantes, sedativos leves, antidepressivos, bloqueio nervoso ou procedimento cirúrgico).

A reabilitação inclui suporte clínico e psicossocial, fisioterapia, avaliação urológica, terapia ocupacional, incluindo sempre o cliente e seu núcleo familiar. Devem ser enfatizadas as habilidades, e não as incapacidades, o foco da reabilitação é a adaptação do indivíduo a sua condição, visando extrair a melhor integração deste com o meio.
Quanto mais adaptado a sua nova condição, mais eficientemente o indivíduo desempenhará as suas atividades de vida diária (AVD).

Mesmo em casos onde o comprometimento seja total, impedindo qualquer participação física do indivíduo, a sua atitude mental pode, e deve ser estimulada, pois a perda da capacidade motora e sensitiva não implica na perda do raciocínio, nem em uma despersonalização.
Complicações orgânicas da lesão medular.

Devido à complexidade do sistema nervoso, as lesões raquimedulares podem levar à complicações orgânicas variadas, dependendo do grau da lesão, altura da lesão, tempo transcorrido entre o trauma e o atendimento, e qualidade do atendimento inicial.
As complicações em longo prazo incluem a síndrome do desuso, a disreflexia autônoma, infecções vesical e renal, espasticidade e depressão.


COMPLICAÇÕES SOCIAIS DA LESÃO MEDULAR.

A vida é movimento. Vivemos uma época em que a informação circula numa velocidade incrível, onde as pessoas cultivam relacionamentos por vezes frívolos e desprovidos de raízes pelo medo do comprometimento emocional. O mundo se transforma incessantemente. Quantas vezes não nos surpreendemos pensando em pedir para o mundo parar, para que pudéssemos descer desta roda viva?
O indivíduo que sofre uma lesão medular, com comprometimento que gera incapacidade, defronta-se com uma nova realidade, onde o acompanhamento e o cuidado de inúmeros profissionais de saúde especializados (médicos, enfermeiros, terapeuta ocupacional, psicólogo, psiquiatra), além de engenheiros de reabilitação, assistente social se fazem constantes. Reside aí o risco de perda da privacidade, do direito ao isolamento, e em casos mais graves, perde-se mesmo o direito de ser.


Quando o lesado raquimedular é o provedor da família, inicia-se um processo de reestruturação que parte da total falência caminhando para uma nova estrutura familiar, com a ocupação deste posto por um dos membros, nos casos bem-sucedidos. A aposentadoria por invalidez pode ser permanente ou transitória, sendo reavaliada pelo órgão competente de Seguridade Social. O custo elevado das adaptações necessárias tem sido uma barreira para os menos favorecidos, assim como o acesso aos serviços públicos de reabilitação, visto que fatores climáticos, transporte, disponibilidade de acompanhamento familiar, financeiro e espiritual são determinantes no comparecimento a estes serviços.

Com o passar do tempo, nota-se um afastamento natural das pessoas do convívio anterior ao acidente. Poucos são aqueles que permanecem. A família demonstra sinais de fadiga (diagnóstico de enfermagem [NANDA]: tensão do papel do cuidador). É preciso atentar para o risco de auto-extermínio, em pacientes deprimidos com condições físicas de praticá-lo.

Observa-se uma diminuição da expectativa de vida nos indivíduos com lesão medular (80 a 85% em relação a indivíduos sem lesão medular). As principais causas de morte são: pneumonia, embolia e septicemia.
Para refletir: o ator norte-americano Christopher Reeve, que interpretou nos cinemas o Superman nas décadas de 1970 e 1980, foi vítima de trauma raquimedular durante a prática do hipismo, em maio de 1995.  Faleceu em outubro de 2004. A causa mortis foi infarto, em decorrência de septicemia secundária a lesão cutânea infectada “comum a pessoas paraplégicas” (Folha da São Paulo on-line, disponível em ).

  Diagnósticos de enfermagem relacionados (NANDA)
Relacionados à mobilidade física:
Mobilidade física prejudicada;
Intolerância para atividade;
Risco para lesão;
Risco para síndrome do desuso;
Mobilidade em cadeira de rodas prejudicada;
Mobilidade no leito prejudicada.
Relacionados à integridade da pele:
Risco para integridade da pele prejudicada;
Integridade da pele prejudicada relacionada com a imobilidade, percepção sensorial diminuída, perfusão tissular diminuída, estado nutricional diminuído, forças de atrito e cisalhamento, umidade aumentada, idade avançada.

Relacionados ao padrão de eliminação:
Eliminação intestinal alterada;
Eliminação urinária alterada;
Risco de infecção.
Relacionados à nutrição:
Nutrição desequilibrada: maior que as necessidades corporais;
Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais.
Relacionados ao enfrentamento pessoal:
Autoconceito perturbado;
Imagem corporal perturbada;
Auto-estima situacional baixa;
Desesperança;
Disfunção sexual;
Fadiga;
Isolamento social;
Síndrome pós-trauma relacionado a eventos traumáticos de origem humana;
Relacionados ao custo financeiro do tratamento:
Controle ineficaz do regime terapêutico;
Desempenho de papel ineficaz.
Relacionados à família:
Angustia espiritual relacionado ao tratamento;
Enfrentamento comunitário ineficaz;
Enfrentamento familiar comprometido;
Enfrentamento familiar incapacitado;
Processos familiares interrompidos;
Tensão do papel de cuidador.


Referências.
CARPENITO-MOYET, L.J. Diagnósticos de Enfermagem: aplicação à prática clínica. 10 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
DANGELO, J.G; FATTINI, C.A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar: para o estudante de medicina. 2 ed. São Paulo: Atheneu. 2004.
NETTINA, S.M. Prática de enfermagem. 8 ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
SANTOS, J. L (revisão técnica); SANTOS, R.G (tradução). Guia Profissional para Fisiopatologia. Tradução de: Professional Guide of pathophysiology. 1 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
SANTOS, RR; CANETTI, MD; RIBEIRO JR, C; ALVAREZ, FS. Manual de Socorro de Emergência. Seção de ensino e treinamento / Grupamento de Socorro de Emergência /Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro / Secretaria de Estado de Defesa Civil. São Paulo: Atheneu, 2005.
SMELTZER, S.C; BARE, B,G. BRUNNER & SUDDARTH Tratado de Enfermagem Médico- Cirúrgico. 4 vol. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
[1] Nesta ordem.
[2] KANANN, Eduardo. Discurso proferido na aula inaugural do LATE - UFRJ (Liga Acadêmica de Trauma e Emergência da Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 27 de março de 2007.


Autora: Fernanda Santos.
Acadêmica de Enfermagem (EEAN/UFRJ).

Adaptações e imagens: André Padilha.
Técnico de Seg. do Trabalho e Bombeiro Civil.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A SEGURANÇA PRIVADA E O CRESCIMENTO DA VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE FACE À DIFICULDADE DA POLÍCIA MILITAR EM GARANTIR A SEGURANÇA PÚBLICA




A SEGURANÇA PRIVADA E O CRESCIMENTO DA VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE FACE À DIFICULDADE DA POLÍCIA MILITAR EM GARANTIR A SEGURANÇA PÚBLICA[1]


Murilo Marques de Castro[2]
Wanderley Santos do Nascimento[3]
André Luiz Padilha Ferreira[4]


RESUMO

Este artigo trata sobre a necessidade de segurança privada nos centros urbanos, uma vez que o crescimento da violência e criminalidade é fato real quando se trata de qualquer área urbana brasileira. O objetivo geral do estudo é verificar as práticas das ações de prevenção e repreensão da segurança privada face à violência e à criminalidade existentes nos meios urbanos, focando paralelamente a segurança pública. Trata-se de estudo bibliográfico, descritivo e analítico fundamentado em autores, como Cravo (2014), Nascimento (2012), Paes (2013), Ribeiro (2012) e Graziano (2010), que abordam sobre a violência e criminalidade em âmbito da segurança pública e privada. Considera-se que  as funções desempenhadas pela segurança privada complementam o policiamento ostensivo de segurança pública realizado pela Polícia Militar, sobretudo, em ambientes corporativos, agências bancárias, residências e a pessoas físicas para minimizar as investidas criminosas e violentas do crime organizado.

Palavras Chave: Segurança Privada. Violência. Criminalidade. Urbana.


ABSTRACT

This article discusses the need for private security in urban centers, since the growth of violence and crime is indeed real when it comes to any Brazilian urban area. The overall objective of the study is to verify the practices of prevention and rebuke the private security at the existing violence and crime in urban areas, focusing on parallel public safety. This is bibliographic, descriptive and analytical study based on authors such as Cravo (2014), Nascimento (2012), Paes (2013), Ribeiro (2012) and Graziano (2010), which address on violence and crime in the context of public and private security. In conclusion, the functions performed by private security complement the ostensible policing public security held by the military police, especially in corporate environments, banks, households and individuals to minimize the onslaught of organized crime and criminal.

Keywords: Private Security. Violence. Crime. Urban.
1 INTRODUÇÃO

    A violência e a criminalidade são fenômenos sociais e multicausais. Portanto, não há ma solução mágica. É preciso várias ações para minimizá-las. Primeiro, investimento muito grande na polícia quanto à formação, à inteligência e à informação para qualificar a ação da polícia. Como segunda ação seria oportuno incrementar o investimento em políticas públicas voltadas à geração de renda e emprego, ações realizadas pela sociedade civil: projetos sociais em locais com índice de alta vulnerabilidade de risco, projetos focados e principalmente com o público bastante afetado, que é o público jovem. O terceiro seria o envolvimento das prefeituras em ações preventivas [...] (SAPORI, 2010).
         

Muitas são as pessoas que migram do interior do Estado e de outros lugares, para os grandes centros, em busca de melhor qualidade de vida, acesso à educação, saúde e emprego, embora nem sempre as cidades grandes garantam esses acessos e melhoria na qualidade de vida. Ao contrário, é possível que essas pessoas em grande fluxo para as cidades formem grandes aglomerados e vivam em condições desumanas com o processo de ultra-urbanização.

O processo de ultra-urbanização não pode seguir seu curso sem exercer violência contra o território, sua natureza, topografia e seus habitantes. Seria, portanto, correto pensar a violência e a criminalidade praticados por habitantes refletindo sobre a maioria, como resposta ao crescimento desestruturado da sociedade urbana, do território fragmentado, da economia, da desigualdade social e da segregação (FEGHALI; MENDES, 2009).

                        Para Pedrazzini (2006, p.75), as abordagens policiais são efeitos do desajuste social, da globalização, do capitalismo e do crescimento demográfico, que proprícia imigração do campo, conhecido antigamente por zona rural para a cidade. Nas cidades, a urbanização ocorre relativamente rápida, planejada com ou sem estrura, segundo a região, embora predomine a forma não planejada, que corrobora para que aumentem os bolsões de miséria.

Verifica-se que a visão acerca da qualidade do meio metropolitano diverge, mas ninguém, mesmo entre os admiradores incondicionais da cidade negaria a parte destrutiva que acompanha o aparecimento de novas formas urbanas ou a construção de novos assentamentos humanos. A organização socioespacial das cidades permanece apenas suspensa, pois a violência e a criminalidade dorme com garras e dentes afiados, expondo-se nos mesmos territórios.

A violência, a criminalidade e o medo são frutos da própria sociedade em função dos problemas sociais existentes no meio urbano que favorecem, assim, uma abordagem unificada dos problemas nesse meio e, ao expor seus perigos, oferece um conhecimento superficial da cidade (FEGHALI; MENDES, 2009). 

            A violência e a criminalidade são fenômenos sociais e multicausais. Portanto, não há ma solução mágica. É preciso várias ações para minimizá-las. Primeiro, investimento muito grande na polícia quanto à formação, à inteligência, à informação para qualificar a ação da polícia. Como segunda ação seria oportuno incrementar o investimento em políticas públicas voltadas à geração de renda e emprego, ações realizadas pela sociedade civil: projetos sociais em locais com índice de alta vulnerabilidade de risco, projetos focados e principalmente com o público bastante afetado, que é o público jovem. O terceiro plano seria envolvimento das prefeituras em ações preventivas, pois, em geral, em alguns lugares a sensação de segurança é gerada por questões urbanas, de investimento de infraestrutura urbana. E isto é função da prefeitura. Se o executivo municipal trabalhar em fina sintonia com o estado e o com governo federal, os resultados se tornam mais substanciais para a redução da violência e da criminalidade (SAPORI, 2010).

            Todavia, segundo Sapori (2010), a violência como fenômeno social existe no seio da humanidade desde o início dos tempos, pois a disputa por poder, espaço e elementos para subsistência do homem sempre esteve presente na vida em sociedade. Na perspectiva sociológica, ressalta-se a existência de diferentes as interpretações. Na concepção estrutural-funcionalista de Marx a violência está relacionada à luta de classes, devido às transformações sociais impulsionarem a violência, e a violência provocar as mudanças na sociedade.

Para Feghali e Mendes (2009), toda urbanidade define-se pela relação específica que existe historicamente entre a violência, a criminalidade e a urbanização. Em contrapartida, é extremamente difícil avaliar o estado de um bairro de uma determinada cidade, tendo um conhecimento prévio de outro. As políticas de segurança diferenciam em geral, de cidade a cidade, entre os que nela circulam livremente e os que são acusados de ameaçá-la. Inversamente, a violência não divide a cidade.

Conforme Ribeiro (2012), é evidente que a violência e a criminalidade são derivadas do capitalismo, que embora traços comuns, precisa se levar em conta que a condição social e as políticas públicas de segurança são divergentes de um Estado para  o outro, o que implica nos efeitos e na proporção dos efeitos da criminalidade de cada lugar.

A paz é uma opção nacional, claramente expressa na Constituição de 1988. Por um lado, construir a paz num processo de mudança é o que responde, de fato, aos anseios da sociedade, pois exige um esforço continuado e uma revisão constante de mecanismos. Estabelece, por outro lado, um princípio comum entre o Esta­do e a sociedade, um filtro para as ações dos dois lados, princípio que, de resto, já está expresso na vontade política constitucional (LEAL; PIEDADE JÚNIOR, 2013).

O combate à insegurança é parte de um contexto no qual há um forte clamor social que torna necessária a implementação de uma série de ações governamentais voltadas à solução desse problema, pois é óbvio que a vontade política e social é o ponto de partida dessa luta. Não é mais justo que a população seja vítima de quem a sociedade colocou à margem, sem programa prevenção ou recuperação que não seja a reclusão (SILVA, 2009).

As cidades, cujo princípio motor é o medo podem ser qualificadas de sociedades do pânico, aquela em que meliantes tentam desarticular a ordem. A natureza humana inerente à violência ilustra que esse fenômeno não está desvinculado do território onde se manifesta como prática cultural. Ela adquire sentido em sua relação com o território, com o bairro, e com o mundo (ESPÍRITO SANTO, 2008).

Lembra-se de acordo com o art. 5º da Constituição Federal de 1988, no que concerne à igualdade de direitos que "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade", previsão esta ameaçada pela violência e criminalidade que vitima a muitos em função do Estado não conseguir garantir o referido direito.

            Normalmente, entre as várias modalidades de crime estão aqueles previstos no Código de Processo Penal, art. 155: subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel; art. 157: subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la por qualquer meio reduzida a impossibilidade de resistência; e art. 171: obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Do ponto de vista metodológico, o estudo é bibliográfico, descritivo e analítico fundamentado em diferentes autores, como, por exemplo, Dantas Filho (2009), Espírito Santo (2008), Lucas (2014), Maguire (2012), Munis (2006), Paes (2013), Pastana (2009), Ribeiro (2012), Rosado (2005), Sapori (2010), Silva (2009) e Graziano (2010), e também na Constituição Federal de 1988, entre outros, que abordam a temática em pesquisa.

A justificativa pela escolha do tema se deu em função do aumento dos fenômenos da violência e da criminalidade. O estudo é relevante do ponto de vista acadêmico, pois permite que se acesse um estudo que deve ser debatido constantemente em cursos de segurança pública e privada. O estudo é também socialmente, em função do crescimento do número de empresas de segurança privada e aparatos de tecnologias de ponta para o combate do crime organizado, uma vez que não se atacam os fenômenos destacados com políticas públicas.

            Diante do exposto, para prevenir a segurança, com este estudo, a partir do tema que será desenvolvido, busca-se responder ao seguinte questionamento, que se define como problema da pesquisa: quais as ações práticas, ou seja, as funções desempenhadas pelas empresas de segurança privada mesmo com a existência do policiamento ostensivo pela Polícia Militar (PM), responsável pela segurança pública no meio urbano?

            O objetivo geral, pretende-se refletir com o estudo as práticas das ações de prevenção e repreensão da segurança privada face à violência e à criminalidade existentes nos meios urbanos, com ênfase paralela à segurança pública. Os objetivos específicos do  estudo bibliográfico são: explanar acerca da violência e criminalidade, enquanto fenômenos desestruturadores da paz; explicitar sobre segurança pública e combate à criminalidade; e caracterizar a questão da segurança privada no âmbito pessoal, residencial e corporativo.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE, FENÔMENOS DESESTRUTURADORES DA PAZ

            Mesmo que a urbanização propague-se brutalmente ou diminua unindo-se às formas sofisticadas do capitalismo avançado e das sociedades da informação existem apenas países em fase de urbanização. Conforme as estatísticas das Nações Unidas (2004 apud PEDRAZZINI, 2006) são inúmeros os caminhos da urbanização, e, muitas vezes, desconhecidos ou incompreensíveis.

            Com efeito, as metrópoles caminham em direção a um futuro incerto. Alguns falam em cidades virtuais, finalmente libertadas do real, mas a utopia das cidades mutantes virtuais viu-se confrontada ao princípio de realidade que é a vida dos seres humanos. Há ainda outros, que prevêem a chegada de monstros perversos e propagadores do crime. Pode-se ter uma projeção quantitativa, mas tudo é incerto em função das variedades de violência que poderão ainda surgir com o mundo globalizado e a sofisticação tecnológica.

            Conforme Pedrazzini (2006) houve um tempo em que a cidade era analisada como um bem para o ser humano (a promessa de um futuro melhor para o camponês). Era um progresso importante para o homem e para o território, pois representava o avanço da civilização, a ampliação do mercado, dos bens negociáveis, das oportunidades e ainda muito mais. Ela era feita para os aventureiros do cotidiano, encerrava uma promessa de riquezas e modernidade, é o que defendia por Pedrazzini (2006).

            Para qualificar a mutação urbana se caracterizou pelo desmoronamento de árduas conquistas realizadas pela tradição e pelas lutas sociais, na representação ideológica que imperou durante os três primeiros quartos do século XX, os diferentes elementos constitutivos do sistema urbano (infra-estrutura, serviço, moradia, administração) deveriam apresentar objetivos convergentes ou pelo menos correspondentes que garantissem o funcionamento da cidade capitalista (GRAZIANO, 2010).

             Tratava-se de um urbanismo estritamente gestionário, uma concepção técnica sem espaço para a incerteza e, portanto, para o fator humano. A crise urbana, porém, não é apenas uma etapa do progresso, mas um fenômeno de civilização, de sociedade e de cultura. Ela é a própria cidade. Para Graziano (2010), o urbanismo tornou-se um meio de difícil controle da violência, pois nem todos que optaram pela cidade tiveram as mesmas condições favoráveis ou desfavoráveis.

            Para inúmeras sociedades fragilizadas pelos vínculos com os benefícios da globalização da economia neoliberal, trata-se de uma deflagração que destrói, total ou parcialmente, "as estruturas que foram implantadas para reduzir o impacto do capitalismo sobre os mais pobres, fenômeno que qualifica de realismo capitalista”, (VINHO, 2004 apud PEDRAZZINI, 2006,  p. 67).

            Verifica-se que as estruturas sociais, segundo Paes  (2013, p. 117),

 as estruturas sociais ficam expostas ao perigo e as estruturas da economia formal permanecem protegidas. Abandonados à realidade dos centros urbanos, os atores sociais adotam novas estratégicas de resistência.  A periferia é a eterna vítima territorial e talvez o produto direto da violência da urbanização e da globalização. Mesmo se for adotado o ponto de vista genérico, é necessário contextualizar a periferia e sua eventual violência, situando (espacial e historicamente) as relações entre as violências identificáveis em nível local e a violência da urbanização/violência da globalização. É perfeitamente viável começar pela periferia para compreender as dinâmicas da cidade e contribuir diretamente à explicação global das mutações urbanas contemporâneas.
           

            Considera-se que a violência gera criminalidade e no meio urbano, o crime organizado disputa território se estendendo às comunidades carentes, onde os agentes do crime têm suas bases operacionais com delineamento de guerra irregular. Por isso, é necessário empreender e colocar em ação as forças de repressão do Estado para fragilizar o contingente  bélico do crime organizado a partir das operações seletivas precedidas de atividades de Inteligência.

            A palavra violência, segundo Feghali e Mendes (2009, p. 76) é caracterizada da seguinte maneira:


constrangimento físico ou moral, uso da força, coação, torcer o sentido do que foi dito, estabelecer o contrário do direito à justiça, que se baseia faticamente no dado, dar-se à ética, negar a livre manifestação que o outro expressa de si mesmo a partir de suas convicções. Corresponde, também, a um sentido de inadequado, de fora da proporção, em sua expressão e conteúdo.
                       

                        Concorda-se que os padrões comportamentais supracitados dos indivíduos não estão reduzidos à margem da cultura, entretanto a constitui como unidade cerne, conduzindo a sociedade atual ao sadismo e à crueldade do crime organizado, que mais aberrante se tornam componentes no cotidiano. A sociedade manifesta dificuldades para suportar os índices de agressividade; esse dado criou a possibilidade de negociação com os agressores. Ocorrem situações em que os agredidos aceitam perder os objetos de valores financeiros para manterem suas vidas intactas.

            Segundo Paes (2013), constantemente os assaltos são acompanhados de crimes contra a propriedade e a honra (entendida esta como o valor de uma pessoa a seus próprios olhos, mas também aos olhos de sua sociedade), quando não acompanhados de assassinatos. E nesse caso que se coloca a questão da tolerância e aceitação, da permissividade, maior ou menor, por parte das vítimas, das exigências e das ameaças dos assaltantes. O que se observa claramente, é que o valor básico a sustentar a conduta dos agredidos é a sobrevivência

            Por meio de uma visão sócio-histórica, a partir de Paes (2013), há que se constatar uma mudança de costumes e valores associada às dramáticas transformações da vida urbana. Esses aspectos estenderam-se de tal forma, que se tornou possível ver hoje a banalização e a rotinização da violência, cujas consequências trazem o excesso que tende a se cristalizar como uma perversão difícil de ser controlada.

            Para Lima (2011) é muito difundida a ideia de que a violência e a criminalidade são frutos da desigualdade, da distribuição injusta de bens, da dificuldade de acesso à riqueza socialmente produzida, enfim, da exclusão econômica. Essa tese vem se mostrando cada vez capaz de dar conta de explicar o fenômeno, para uns de dar conta dos fenômenos enquanto para outros é uma teoria intolerante, segundo o autor citado.

            Consoante Lima (2011), constata-se que a noção de que a violência é efeito da pobreza a que é relegada uma parcela considerável da população, é necessário enfatizar que esta ideia é equivocada e precisa ser revista. A exclusão econômica sozinha não explica a violência com a qual se convive. É relevante compreender a natureza simbólica da exclusão a que é condenada boa parte da população.

            De acordo com Pastana (2009, p. 35),


a pobreza só é fonte de violência na medida em que a riqueza econômica e o consumo de bens materiais se tornam valores hegemônicos, deixando todos os demais valores num plano secundário. Somente numa cultura que enaltece a posse de dinheiro e bens como expressão de sucesso, de uma vida digna de ser vivida, a pobreza tende a ser vivida como exprimindo o contrário.


                       
De acordo com Pastana (2009), noticia-se o aumento dos índices de criminalidade, a partir de 1990, tem conexão com o crescimento do desemprego e automatização nas empresas brasileiras, apesar de que, comparativamente, as taxas de desemprego aumentaram mais do que os índices de violência e criminalidade, em valores percentuais. "São residências invadidas, pessoas roubadas em crimes de saidinha bancária, assaltos a carros fortes, pessoas feitas reféns, sequestradas e  mantidas em cativeiros, e explosão de caixas eletrônicos", (NASCIMENTO et. al. 2012, p. 21).

            “A informatização e os avanços tecnológicos nas áreas industrial e dos bancos com o uso de robôs e caixas eletrônicos reduziu progressivamente milhares de postos de trabalho desde 1990” (MUNIS, 2006, p. 231). A partir de então, houve um aumento expressivo nos índices de desemprego, que são os fatores causadores para a violência, mas é possível que também gerem a violência.

            Para Sapori (2010), a violência vem sendo tratada ao longo da história da humanidade em diferentes perspectivas, todavia no século XX despertou o interesse do poder público, devido passar a ser caracterizada como um fenômeno social, desta forma estudiosos de diversas áreas do conhecimento, investiram na elaboração de teorias, conceitos e definições sobre o tema, assim como encontram-se análises que associam a estas diversas ciências.

            Como se percebe a violência é legitimada, sobretudo, pelo o que é concebido como violência no tempo e no espaço em que ela acontece. Assim, a violência tornou-se objeto de estudo e de intervenções do poder público, na medida em que a sociedade passou pelo processo de modernização, desde então muitas práticas sociais da violência, sobretudo a criminal, passaram a ser concebidas como fenômenos relevantes passíveis de análises e que necessitavam de uma ação mais efetiva dos governantes para seu controle e diminuição.

            Para Cravo (2014), a relação intrínseca entre violência e criminalidade reside no fato desta última, ser uma forma da primeira, que se caracteriza por um comportamento que não é socialmente e juridicamente aceito, portanto um comportamento para ser considerando desviante e criminoso deve estar em desacordo com as leis e comportamentos aceitos pela sociedade, estabelecidas por meio de um disciplinamento e controle social sobre estes.

            Segundo o autor (2014), o controle social confere a um conjunto de organismos materiais e simbólicos que visam a manutenção do equilíbrio social, cuja finalidade é o combate aos comportamentos desviantes, sejam estes individuais ou coletivos. Esta forma de controle social pode ser exercido legalmente pelas instituições públicas, entre elas estão: a Polícia, a Justiça, a Política, a Administração Pública, entre outros. Encontram-se ainda, ações informais, comumente executadas por instituições privadas, Organizações Não-Governamentais (ONGs), igrejas, escola e famílias.

            O autor (2014) considera, contudo, que estas manifestações da violência são produto da era moderna, até mesmo na arquitetura contemporânea encontram-se demonstrações do medo da violência, os muros das casas são comumente altos, revestidos com cercas elétricas, impedindo a visibilidade para a rua, e ainda com cães de guarda e alarmes, demonstrando-se assim que a arquitetura dos grandes centros urbanos, na atualidade, caracteriza-se pela necessidade de defesa e a proteção, uma vez que a segurança pública e o combate à violência e à criminalidade, assunto do próximo subitem é algo cada vez mais complexo dado ao crescimento dos dois fenômenos que vêm aumentando expressivamente ano após ano.


2.2 SEGURANÇA PÚBLICA  NO COMBATE À VIOLÊNCIA E À CRIMINALIDADE

            Em suas pesquisas, Silva (2009, p. 51) afirma que "há duas concepções de segurança pública que rivalizam desde a reabertura democrática, passando pela Assembléia Nacional Constituinte: uma centrada na ideia de combate; outra, na de prestação de serviço público". A concepção primeira trata sobre a missão da instituição das polícias em sentidos bélicos: seu papel, segundo o autor (2009). As periferias urbanas, geralmente são territórios hostis, que precisam ser ocupados por meio da utilização do poder militar.

            No caso, desta pesquisa, um dos inimigos mais atuantes é o interno, o traficante, como elemento de justificação do recrudescimento das estratégias bélicas de controle social, que enfrenta a Polícia Militar (PM) ao instituir por meio da ilicitude das drogas adolescentes para a prática do crime e da violência, que associadas ao tráfico cresce cada vez mais e causa grande insegurança às pessoas.
            Para Silva (2009, p. 55),


a segunda concepção está centrada na ideia de que a segurança é um serviço público a ser prestado pelo Estado. O cidadão é o destinatário desse serviço. Não há mais inimigo a combater, mas cidadão para servir. A polícia democrática, prestadora que é de um serviço público, em regra, é uma polícia civil, embora possa atuar uniformizada, sobretudo no policiamento ostensivo.
               
                A violência e a criminalidade são fenômenos sociais e multicausais. Portanto, não há ma solução mágica. É preciso várias ações para minimizá-las. Primeiro, investimento muito grande na polícia quanto à formação, à inteligência e à informação para qualificar a ação da polícia. Como segunda ação seria oportuno incrementar o investimento em políticas públicas voltadas à geração de renda e emprego, ações realizadas pela sociedade civil: projetos sociais em locais com índice de alta vulnerabilidade de risco, projetos focados e principalmente com o público bastante afetado, que é o público jovem. O terceiro seria o envolvimento das prefeituras em ações preventivas, atuando em fina sintonia com o executivo estadual e o governo federal, sem perder de vista as parcerias com a iniciativa privada (RISSO, 2009).
             
Logo, pressupõe-se que a segurança pública é a garantia proporcionada pelo poder público para que não se violem as normas jurídico-penais comuns, para que sejam processados e julgados os autores da violação, através de medidas repressivas para que se estabeleça a ordem pública e a paz social.

            Por um lado, a Constituição Federal de 1988 concebeu como finalidade das políticas de segurança a preservação da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Por outro lado, manteve parte importante da polícia militarizada. Embora subordinadas aos governadores dos estados, as polícias militares continuam previstas no art. 144, § 5º como forças auxiliares e reservas do Exército (BRASIL, 1988).

            Insiste-se, no caput do art. 144, no qual a Constituição Federal determina que “as políticas de segurança se destinem à preservação da ordem pública e à incolumidade das pessoas e do patrimônio” (BRASIL, 1988). É possível que isso seja uma atividade relevante do serviço público de segurança prestado ao cidadão. Mas a utilização do entendimento de ordem pública, que é um conceito jurídico indeterminado abre-se a diferentes apropriações, democráticas e autoritárias, comprometidas ou não com o Estado democrático de direito.

            Para Santin (2008, p. 35):

recuperar a segurança é, além de difícil, demorado e custoso, um desafio permanente. Ao menor descuido e erro, a insegurança toma conta de um lugar, de um meio, e sua erradicação pode ser muito complicada. Desse modo, segurança é produto de um conjunto de variáveis relevantes, que podem alterar-se no tempo.


            Parafraseando Santin (2008), quanto maior for a disponibilidade de recursos para a produção de segurança, mais esta será produzida. Todavia, se os mesmos forem insuficientes, escassos, mal alocados ou desaparecerem no meio da corrupção, a segurança pretendida não acontecerá, ou virá parcialmente, frustrando a população. Se não houver recursos, os índices de criminalidade tendem a crescer, especialmente aqueles referentes aos delitos violentos, como, por exemplo, o homicídio, as lesões corporais graves e os grandes assaltos.

            Para Sapori (2010), a segurança do cidadão e de sua família, no lar, na escola, na rua e no trabalho, depende das atividades de diversos órgãos públicos que compõem o sistema de defesa social e a ação do Estado. A segurança pública é a garantia proporcionada pelo poder público para que não se violem as normas jurídico-penais comuns, para que sejam processados e julgados os autores da violação, através de medidas repressivas. Enfim, a segurança pública assume grande importância para as comunidades por fazer abordagens

É possível observar entre os autores supracitados, que há divergências entre os pensamentos referido nas doutrinas, mas no cumprimento de sua missão constitucional, as polícias militares realizam várias operações preventivas, como por exemplo, as buscas pessoais, dentre outras, com o intuito de inibir a manifestação dos meliantes. O trabalho ostensivo da PM como não o poder público não investe corretamente em políticas públicas é necessário.
             
Para Graziano (2010), a segurança pública deve ser colocada, portanto, como uma questão político-social, devendo ser enfrentada pela sociedade e suas instituições, de modo que os problemas devem ser encaminhados a partir de ações globais, planejadas rigorosamente sob seus aspectos geopolíticos e socioeconômicos, resguardando as especialidades do contexto histórico da atualidade. Assim, torna-se necessário a compreensão da dimensão da criminalidade e da violência, tanto pelos políticos quanto pela sociedade


2.3 A SEGURANÇA PRIVADA NO ÂMBITO PESSOAL, RESIDENCIAL E CORPORATIVO

            De acordo com Lucas (2014) àquela época, talvez  em proporção não muito diferente que atualmente, o Brasil vivia um momento muito complicado com o aumento da violência e da criminalidade urbana, pois as pessoas que cometem crimes banalizam os motivos pelas quais agem para com o outro ou para com os bens e patrimônios públicos e privados.

            Verifica-se que a segurança privada tem se destacado bastante nos últimos anos, por uma lacuna deixada pela segurança pública, que na verdade, a lacuna principal é a falta de políticas públicas que não estão cumprindo seus papéis, pois parece não ser para o Executivo da União, Estados e Municípios uma necessidade primária. De acordo com Demo (2006) inexistem políticas suficientes para reduzir a miséria, o desemprego, a falta de escola, de hospitais. É nessa lacuna que entra em cenário o crime organizado para aliciar também nas periferias.
             
Para Maguire (2012), a procura pelos serviços de segurança privada cresceu não faz parte apenas das necessidades das agências bancárias, a banalidade do tema pela mídia,  a partir de programas sensacionalistas que aumentam e também pelos discursos de muitos políticos desprovidos de éticas por não desenvolverem seus papéis como deveriam para equilibrar o social e garantir a cidadania, incentivam e equipam o crime organizado com informações de crimes cometidos com a utilização de estratégias mirabolantes e violentas.

            Segundo Dantas Filho (2009), pessoas,  empresas públicas e privadas, e residências se previnem das organizações criminosas e de indivíduos meliantes, que causam pânico em nome do crime, E, por disporem de bens e dinheiro em grandes quantidades contratam empresas especializadas em segurança privada, para evitar roubos e crimes praticados por esses elementos, que não pensam duas vezes em roubar e cometer atos violência contra os donos das propriedades.

            Rozado (2005, p. 39) cita que:

as empresas de segurança e suas atividades são reguladas por princípios e normas estabelecidos a partir da Lei Federal n 7.102 de 20/06/1983, regu­lamentada pelo Decreto 89.056 de 24/11/1983, e outras legislações posteriores que trouxeram modificações, exclusões, inclusões e inovações à prestação de serviço. Toda a empresa de segurança se submete à fiscalização direta do Departamento de Polícia Federal, atra­vés de suas Comissões de Vistoria.


            Conforme a autora (2005), as empresas devem trabalhar devidamente regularizadas com toda a sua documentação e também as documentações de seus empregados em dia. Os profissionais devem ser habilitados para exercer as funções de vigilante e segurança; no caso deste último por manipular arma de fogo deve estar documentado com porte de arma e ter curso reconhecido pela Polícia Federal. As escolas de formação também formam e especializam, promovendo cursos de aperfeiçoamento tanto para vigilante quanto para segurança. Exemplos de tais cursos são em transporte de valores, escolta armada e segurança pessoal privada, há aperfeiçoamento bimestralmente.

            De acordo com Munis (2006), as empresas de segurança privada acumulam como objeto da prestação de serviços, as seguintes atividades, devidamente registradas nas legislações específicas e cuja prestação de serviços pode ser oferecida ao mercado de corporativo público e privado e também às pessoas físicas que primam pela segurança e integridade patrimonial e física de suas residências e de seus familiares. Conforme Munis (2006, p. 83)

vigilância patrimonial  das instituições financeiras e de outros estabelecimentos públicos e/ou privados, a segurança de pessoas físicas, escolta armada, transporte de valores ou de qualquer tipo de carga; segurança privada às pessoas físicas; proteção e guarda dos estabelecimentos comerciais e industriais, empresas prestadoras de serviço, condomínios e residências; vigilância a entidades sem fins lucrativos e a órgãos e empresas públicas


            Os serviços orgânicos de segurança que são prestados pelas próprias em­presas que tenham objeto econômico diverso da vigilância ostensiva e do transporte de valores e que utilizem pessoal do quadro funcional próprio para a execução dessas atividades ficam obrigadas ao cumprimento do disposto na legislação, não podendo comercializar tais serviços, que são de uso próprio (MUNIS, 2006).

            Para Lucas (2014), as empresa de segurança privada ou empresa dotada de serviços orgânicos de segurança não podem funcionar sem receber a autorização de funcionamento expedida por uma Comissão de Vistoria do Departamento de Polícia Federal, após a devida vistoria nas instalações e posterior expedição do Certificado de Segurança, que deve ser renovado anualmente. A contratação dos serviços de uma empresa especializada deve ser pre­cedida de uma avaliação detalhada.

            Acerca do Plano de Segurança Bancário, em conformidade com a Lei Federal 7.102, de 20/06/1983 e Decreto 89.056, de 24/11/1983, as instituições financeiras (bancos oficiais ou pri­vados e similares) deverão possuir um sistema de segu­rança aprovado pelo Ministério da Justiça a ser definido por um plano de segurança com vigilância ostensiva e sistemas de alarme e um dos  equi­pamentos abaixo, segundo Munis (2006, p. 84):


equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens instalados de forma a permitir captar e gravar as imagens de toda movimentação de público no interior do estabelecimento; artefatos que retardem a ação dos criminosos, permitindo sua perse­guição, identificação ou captura; ou cabina blindada com permanência ininterrupta de vigilante durante o expediente ao público e enquanto houver movimentação de numerário.


            Para Dantas Filho (2009), o plano de segurança inicial fornece os dados cadastrais importantes e define os recursos e materiais mínimos necessários ao sistema de segurança de cada unidade bancária, em cumprimento à legislação; após a aprovação inicial esse plano deve ser renovado anualmente junto às comissões de Vistoria da Polícia Federal para atender os dispositivos legais que regem seus funcionamentos.

            As instituições financeiras nos grandes centros brasileiros, como, por exemplo, no sudeste fazem uso de um aparato expressivo em seu sistema de segurança, agregando dispositivos que excedem as exigências, segundo Munis (2006, p. 85), entre eles estão:             "vigilância ostensiva, sistema de alarme interligado a órgãos policiais e/ou empresas de vigilância, dispositivo de retardo de tempo nos cofres, câmeras automáticas de fotografias, câmera de circuito fechado de televisão, portas giratórias com detector de metais".

            Conforme o autor (2006), o sistema de uma empresa deve ser definido por um planejamento estratégico originário da alta dire­ção, elaborado a partir dos objetivos e diretrizes da empresa, levando em conta cenários e fatores econômicos, sociais e financeiros in­ternos e externos. O planejamento definirá a Política de Segurança, com acesso restrito, que fornecerá os parâme­tros para a elaboração do Plano de Segurança e de Contingências (PSC).

            Para o autor (2006), o PSC também confidencial operacionalizará as atividades de segurança, estabelecendo a interface entre normas, procedimentos, recursos huma­nos e materiais necessários à qualidade total tanto em épocas normais quanto em situações de crise. Segundo o autor, o foco permanente será sempre o trinômio bem/ameaça/medida de proteção; e o objetivo a ser alcançado é a manutenção da ordem interna, a redução dos riscos potenciais, a prevenção de perdas humanas e materiais e a continuidade dos negócios.

            Ainda segundo o autor (2006), o PSC é um documento analítico destinado exclusivamente ao uso interno da instituição, que descreve e avalia os riscos, os custos financeiros atuais do sistema de segurança e os custos futuros em caso de implantação de pessoal especializado e equipamentos de segurança. As informações sigilosas são restritas à direçãodo Comitê de Gerenciamento de Riscos.

            Para Pastana (2009), as ações criminosas são eventos de alto risco para os cidadãos e empre­sas, produzindo perdas e prejuízos incalculáveis, de natureza física, psico­lógica, econômica e social. O combate aos eventos criminosos internos e externos deve ser realizado de modo a provocar a inversão de sentido nessa dinâmica, em que o risco seja deslocado das empresas para os cri­minosos.

            Segundo Nascimento e Reginato (2009), a análise SWOT indica o melhor caminho para o planejamento da pro­teção adequada contra as investidas criminosas Strengths = Forças (identificar e utilizar nossos pontos fortes); Weaknesses = Fraquezas (identificar e neutralizar nossos pontos fra­cos); Opportunities = Oportunidades (identificar e explorar as oportunidades); e Threats = Ameaças (identificar e superar as ameaças).

            Nascimento e Reginato (2009), destacam, por um lado, que os pontos fortes representam as vantagens operacionais que a organização possui em relação a seus concorrentes e são considerados como facilitadores para a adoção de estratégias, tanto para se aproveitar uma oportunidade quanto para se evitar uma ameaça. Por outro lado, os pontos fracos representam as fragilidades operacionais quanto à adoção de uma estratégia. Os pontos referidos devem ser analisados à luz da comparação entre a empresa e seus concorrentes.

             As ameaças são variáveis ambientais de difícil controle que representam, ou podem vir a representar, riscos de continuidade para o negócio, e se ações não forem tomadas para minimizá-las ou neutralizá-las. As oportunidades são variáveis, também difíceis de serem controladas pela empresa, que podem se converter em estratégias voltadas ao crescimento, consolidação de posição no mercado, de lucro e outras ações favoráveis.

            Para Almeida (1997), em uma relação de comparação, as atividades exercidas pelo policiamento ostensivo da segurança pública, a segurança privada exercida por empresas especializadas nessa área tende a exercer o papel de segurança de prevenção para as pessoas físicas, empresas públicas e privadas de atividades mercantis, para isso utilizam pela equipe habilitada para tal.

            A segurança privada é regulamentada pelo art. 5º, inciso XII, da Carta Magna de 1988.  A fiscalização é função da Polícia Federal, art. 1º e § 1° da Portaria PF nº. 387/2006:


Art. 1º:  A presente portaria disciplina, em todo o território nacional, as atividades de segurança privada, armada ou desarmada, desenvolvidas pelas empresas especializadas, pelas que possuem serviço orgânico de segurança e pelos profissionais que nelas atuam, bem como regula a fiscalização dos planos de segurança dos estabelecimentos financeiros. § 1°: As atividades de segurança privada serão reguladas, autorizadas e fiscalizadas pelo Departamento de Polícia Federal - DPF e serão complementares às atividades de segurança pública (BRASIL, art. 1º, 1988).
           

            A segurança privada complementa as funções de segurança pública desenvolvida pelo Estado, por meio da Polícia Militar, conforme dispõe o Texto Constituinte de 1988, pois o contingente e aparatos da primeira são insuficientes para combater a criminalidade urbana. Sem o apoio da segurança privada, o caos no enfrentamento à violência e à criminalidade estaria muito pior, já que por inexistência ou insuficiência de proteção pessoas, empresas e condomínio ficariam mais vulneráveis aos eventos violentos e criminosos nas cidades.

3 MÉTODO
           
            A pesquisa desenvolvida é classificada como pesquisa bibliográfica, descritiva e analítica, tendo sido iniciada em maio/2016 e terminada em julho/2016 com a definição do tema, elaboração dos objetivos e escrita da problemática a partir do tema definido. Foram selecionados livros dispostos em instituições de ensino público e privado, e material encontrado na Internet, embora este tenha sido menor quando comparado aos livros, que foram em maior proporção.

            Muitos autores foram utilizados na escrita do artigo, esses autores escreveram sobre segurança pública e privada, violência, criminalidade e associação a organizações criminosas. Dentre os quais destacam-se como principais Dantas Filho (2009), Espírito Santo (2008), Lucas (2014), Maguire (2012), Munis (2006), Paes (2013), Pastana (2009), Ribeiro (2012), Rosado (2005), Sapori (2010), Silva (2009) e Graziano (2010), e também na Constituição Federal de 1988 entre outros autores que abordam a temática em pesquisa.

A pesquisa bibliográfica, de acordo com Fonseca (2002, p. 32):

é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta.


            Como é possível compreender, a pesquisa bibliográfica é uma releitura de estudos realizados e publicados por diferentes autores sobre determinado tema. A releitura é feita a partir da leitura, fichamento e escrita fundamentadas em livros, trabalhos acadêmicos de diferentes modelos (artigos, monografias, dissertações, teses, entre outros) com finalidade crítica o que foi escrito pelos autores de referência e elaborar um novo estudo.
           
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

            A temática desenvolvida foi embasada em outros estudos para contribuir com a discussão que envolve segurança pública, segurança privada, violência e associação ao crime organizado, mostrando que quando se discute acerca do assunto pautado na razão, e coerentemente, sempre se pode interagir de maneira crítica para que tais fenômenos que se desenvolveram cronologicamente sejam controlados, pois eles foram criados na vida em sociedade e pela inexistência ou ineficácia de políticas públicas para esse controle, cresceram.

            Referente à violência e à criminalidade, fenômenos desestruturadores da paz, cabe comentar que uma e outra sempre existiram ao longo da história, mas à medida que crescem as cidades e aumentaram o número de pessoas, elas  aumentaram, pois o lugar fica pequeno para acomodar a comunidade, e sem infraestrutur, pois  mais pessoas vivem em condições indignas, sem serviços de saúde, sem escola, sem emprego e sem alimentação, aumentando a situação de misérias e o número de pessoas à margem da sociedade (DEMO, 2006).

            Considera-se que o capitalismo faz a exclusão dos que vivem melhor e de quem vive precariamente exposto a riscos sociais, contato direto com a drogas, com o tráfico, com a prostituição, com a malandragem, com a gravidez precoce, sem qualificação acadêmica. Portanto, sem nenhum direito a poder concorrer com aqueles que dispõem de mais recursos financeiros e por acréscimo melhor qualidade de vida. Os marginalizados são elementos potenciais para integrarem associações criminosas, pois elas saberão onde encontrá-las e como aliciá-las.

            Acredita-se que as contradições de vida supracitadas encontram-se mais abrigo nas cidades grandes que em municípios pequenos, pois as condições para roubar, traficar, cometer crimes, consumir e vender drogas são bem mais propensas de que em municípios pacatos. Não é a toa que os mais audaciosos crimes e violências são noticiados diariamente pela mídia, cujas ocorrências foram em grandes centros.

            A globalização da economia consolidada nos ano de 1990, e que hoje é uma tendência nos quatro cantos do globo é uma variação do capitalismo, por isso, ela é um rolo compressor, que sai esmagando os mais pobres, marginalizados e as vozes silenciadas por falta de oportunidades no mundo globalizado. Diante do contexto Paes (2013, p. 117) analisa:


as estruturas sociais ficam expostas ao perigo e as estruturas da economia formal permanecem protegidas. Abandonados à realidade dos centros urbanos, os atores sociais adotam novas estratégicas de resistência.  A periferia é a eterna vítima territorial e talvez o produto direto da violência da urbanização e da globalização [...].


            É coerente se valer em Paes (2013) para explicitar o poder de exclusão causado pela globalização da economia. O autor foi sábio quando registrou em seus estudos que as estruturas sociais ficam expostas ao perigo enquanto as estruturas da economia permanecem protegidas. Natural, que seja assim, pois o capitalismo não visa as estruturas sociais, que é formada por pessoas, políticas públicas, acesso a emprego, acesso à escola. Para o sistema capitalista quem deve ser preservado e monitorado é o capital, sempre.

            Portanto, como é que em um centro urbano onde circulam fortunas em dinheiro, bens e propriedades haverá preocupação com pessoas quando o lucro, na visão dos capitalistas (grandes empresários, banqueiros, políticos e crime organizado) está no capital? Evidentemente, que em nome do capital muitos serão sacrificados e mortos, pois não têm valor que se compare com a moeda e com tudo o que ela representa.

            Acerca da segurança pública considera-se uma utopia pretender que a Polícia Militar ou qualquer outro modelo de polícia possa garantir a segurança e acabar com a associação ao crime, que por si só gera violência. Além disso, a PM trabalha sucateada com o contingente pequeno em relação às demandas existentes. O número de concursos para o efetivo é pequeno, a logística deixa a desejar, e com toda a boa vontade e esforços empreendidos não serão as ações repressivas que colocaram fim à falta de segurança pública.

            Vale ressaltar que o problema é social, é sentar para discutir, elaborar, colocar em ação e monitorar com ajustes políticas públicas voltadas ao social e à geração de rendas, por meio de emprego, acesso à creche, escola e instituições de ensino superior para as pessoas, pois muitos começam a trabalhar cedo e também cedo esbarram com as adversidades da vida: envolvimento com drogas, roubos e assaltos e assim vão se formando na escola do crime.


5 CONCLUSÃO

Mas como não parece haver interesse do poder público em resolver as causas criminosas e sim seus efeitos, a segurança pública deve ser mantida como é o ideal para os representantes políticos dos Municípios, Estados e União: muita repressão, policiais nas ruas e nas escolas, sem questionar se está certo ou errado, se irá ou não resolver, e quais os riscos disso para a população (GRAZIANO, 2010).


            Observa-se que o processo de urbanização galopante e desestruturado do Brasil se agrava à medida que os anos passam e criam áreas periféricas sem condições de sobrevivência humana, pois não têm água encanada, sistema de esgoto sanitário, energia elétrica nas ruas e nas casas, serviço de coleta de lixo e  acesso a coletivos públicos. Essas pessoas estão desassistidas por serviços médicos e escolas, sendo empurradas para um grande abismo social reservado ao local, por serem vítimas do descaso das autoridades municipais, estaduais e federais.

            Por acréscimo, muitos tornam-se presas fáceis para o crime organizado e a partir dele conseguirem sobreviver, se isto for sobrevivência. Para repelir os meliantes que cometem homicídios, estupram, vendem e consomem drogas, e invadem empresas para roubar, a PM tenta garantir a ordem e a segurança pública, enquanto as empresas de segurança privada ganham mercado, disponibilizando segurança pessoal e patrimonial com forte aparato tecnológico, uma vez que a PM não consegue atender à demanda, que bastante expressiva.

            Atualmente, aliada ao grande crescimento desordenado urbano estão as drogas em nome das quais se fomentam a criminalidade e a violência, que desafiam as ações realizadas pela PM e pela segurança privada. Uma das principais causas do fracasso da segurança pública em todo o Brasil, vista neste estudo é a inexistência ou a fragilidade das políticas públicas; e assim, muitos clamam para reduzir a maioridade penal, aderir à pena de morte, prender o usuário de drogas e aumentar o número de presídios, como se isso fosse resolver.

            Acredita-se que uma reforma urgente e profunda na estrutura social brasileira, pelo poder público competente,para isso, são necessárias políticas públicas de relevo e não apenas medidas assistenciais, pois a PM dificilmente conseguirá manter a ordem pública, e cada vez o comércio que lucra com a criminalidade, como, por exemplo o de armamentos e de tecnologias de ponta que deveriam ser de uso apenas das polícias acabam se fortalecendo com esquemas que favorecem as organizações criminosas e aumentam as recitas de ambos.

            Paralelamente, a esse contexto surgirão mais empresas de segurança privada, mas ainda assim é provável que aumentem os  assaltos a carros fortes, explosões de caixas eletrônicos, assaltos a mão armada e latrocínios a qualquer hora do dia, saidinha bancária, sequestros e investidas criminosas com reféns, que muitas vezes se tornam vítimas e perdem a própria vida, uma vez que não há mais segurança dentro da própria casa.

            Concorda-se que ao recuperar a segurança pode parecer uma utopia, um desafio infinito, sobretudo, em países que não priorizam a educação, em que os representantes políticos não são penalizados por negligência, por deixarem de trabalhar comprometidamente em reverter os fatores que corroboram para a violência e para a criminalidade O estudo desenvolvido deixa muito claro que gera mais renda e é mais fácil investir em aparatos para tentar reduzir os efeitos da marginalidade que vitimam inocentes.

            O retrato que se observa na prática acerca da criminalidade resulta de um complexo de causas e efeitos, basicamente de ordem socioeconômica. A reação social ante o crime, em termos de prevenção e de repressão não pode ser passional, de caráter superficial e apressado, e sim racional, planejado e integrado. A questão da segurança pública e suas causas parecem provocar ressentimento às instituições sociais responsáveis em criar mecanismos para afastar as pessoas dos riscos sociais em vez de criar situações para aproximá-las destes.

Considera-se que os fenômenos sejam da violência, sejam da criminalidade são fatos incontestáveis quanto ao seu predomínio em áreas urbanas, e muitas vezes caminham juntos, embora alguns tipos de violência ainda não tenham sido legitimados como crime todo crime é um ato violento, pois deixa vítimas marcadas pela dor física ou seus entes marcados pela dor emocional,  quando há perda da vida  de alguém que era muito estimado por sua família, amigos e colegas de trabalho.

            São residências invadidas, pessoas roubadas em crimes de saidinha bancária, assaltos a carros fortes, pessoas feitas reféns, sequestradas e  mantidas em cativeiros, e explosão de caixas eletrônicos" (NASCIMENTO et. al. 2012, p. 21). Tais crimes estão em altas estatísticas, para comprovar basta acessar a algum meio de comunicação, diariamente.

            Em última análise, enquanto se trabalhar os efeitos da criminalidade, ignorando suas causas reais, a sugestão de relevo imensurável, contrariando preceitos e teorias sociológicas e os direitos humanos é que se invistam em barreiras, procedimen­tos e sistemas de segurança implantados, armamentos bélicos, seguranças privados e policiamento ostensivo para que por suas eficácias provoquem por inibição, dissuasão ou impedimento quanto à repetida frustração dos atos ilícitos, que a todo instantes violam patrimônios e pessoas.

            No que concerne ao objetivo geral definido na introdução deste estudo, verificar as práticas das ações de prevenção e repreensão da segurança privada face à violência e criminalidade existentes nos meios urbanos, com ênfase paralela à segurança pública é possível considerar que este foi alcançado com o desenvolvimento do artigo bibliográfico e fundamentado em diferentes autores que discorrem em seus estudos sobre segurança pública e privada.

             As funções por parte da segurança privada são complementar o policiamento ostensivo de segurança pública realizado pela PM, sobretudo, em ambientes corporativos, agências bancárias, residências e a pessoas físicas para minimizar as investidas criminosas e violentas do crime organizado, uma vez que apenas a Polícia Militar não tem como dar conta em atender à demanda. Sabe- se que essas ações são paliativas, uma vez que o problema é de ordem socioeconômica, enquanto não se trabalhar as causas não haverão soluções.


            Enfim, como último argumento acerca da segurança, cita-se Santin (2008, p. 35), que considera que "recuperar a segurança é, além de difícil, custoso, um desafio permanente: [...]". Por isso, as empresas (privadas e públicas), bancos (privados e públicos) e pessoas físicas devem contratar as empresas de segurança privada para prestar os melhores serviços de segurança, com armamento e tecnologia de ponta para proteger o patrimônio, bens, valores financeiros, a vida de seus contratantes e famílias, e consubstanciar apoio à PM, que não faz segurança privada a empresas, pessoas e nem transporta valores.


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[1] Artigo de revisão bibliográfica apresentado às Faculdades Integradas Ipiranga, para obtenção do grau de Tecnólogo em Gestão de Segurança Privada, 2016.
[2] Discente do Curso de Tecnólogo em Gestão de Segurança Privada, das Faculdades Integradas Ipiranga (E-mail: murilo-marques22@hotmail.com).
[3] Discente do Curso de Tecnólogo em Gestão de Segurança Privada, das Faculdades Integradas Ipiranga (E-mail: wanderleyiomm@gmail.com).
[4] Professor, orientador do curso de Tecnólogo em Gestão de Segurança Privada, das Faculdades Integradas Ipiranga (E-mail: anpadilha.ferreira@gmail.com).

Quem sou eu

Belém, Pará, Brazil
Técnico de Segurança do Trabalho (Bombeiro Civil), Analista de Segurança em Riscos Empresariais e Corporativos, Graduado a nível de Tecnólogo em Gestão de Segurança Privada com Pós-Graduação em Recursos Humanos.

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